Dispensado do cargo na sexta-feira (03/08), o mais recente coordenador de juventude de São Paulo, Devanir Cavalcante, deu entrevista ao site da Ação Educativa para falar sobre as políticas de juventude em curso na cidade e os desafios para a próxima gestão. Com a dispensa de Cavalcante, a cidade de São Paulo chega à marca de oito coordenadores em oito anos, considerando as duas últimas gestões do governo Municipal. A Coordenadoria de Juventude está ligada à Secretaria Municipal de Participação e Parceria.
Para o ex-coordenador, as mudanças constantes na direção do órgão são “um desrespeito com a juventude”, por atrapalhar a implantação de políticas públicas voltadas para esta faixa da população.
Leia abaixo a íntegra da entrevista:
Ação Educativa: Qual é o balanço que você faz de sua passagem pela Coordenadoria Municipal de Juventude? O que foi possível fazer e o que não foi?
Devanir Cavalcante: Acredito que minha passagem pela Coordenadoria foi marcada por uma reconexão com os movimentos e com os grupos de juventude. Conseguimos a participação de novos atores. Não são grupos novos, mas são grupos que não estavam sendo ouvidos nos processos.
Conseguimos a reconstrução do Fórum do Funk e do Fórum Geek, por exemplo. Isso foi muito bacana, muito bacana mesmo. Eles se sentiram muito felizes de poderem participar e de poderem construir juntos as políticas que lhes dizem respeito.
É preciso avançar mais, claro, mas do jeito que estávamos indo, acredito que em um ano estaríamos em outro patamar. Era todo um processo de tentar abrir as portas da Coordenadoria, ir para os bairros, para as pessoas se organizarem, empoderar grupos. Nesse processo todo, não tive nem R$ 50 mil de recurso.
Ação Educativa: Como você vê a constante troca de coordenadores de juventude e a que você atribui isso?
Devanir Cavalcante: Estávamos dialogando, mas não sei como as coisas vão ficar. O que prejudica é essa interrupção, essa descontinuidade. Isso é péssimo, é um desrespeito com a juventude. Não falo da minha saída, mas já são oito coordenadores em oito anos de criação da Coordenadoria. Isso é muito ruim para a política de juventude em são Paulo – a quinta maior cidade do mundo, com 3,5 milhões de jovens. Seria preciso um órgão com força de secretaria para dar continuidade ao trabalho.
Acredito, e isso foi até falado quando fui comunicado do desligamento pela Secretaria [Municipal de Participação e Parceria], que essas mudanças ocorrem muito por causa das eleições, de campanha política. Não foi levada em conta a avaliação que se faz do coordenador, mas a política partidária. Com estas várias trocas de coordenadores, não há continuidade nas políticas de juventude. Fui chamado na segunda para sair até sexta.
Ação Educativa: Quais foram os principais entraves à sua atuação na coordenadoria?
Devanir Cavalcante: Não teve recurso. Os processos que aconteceram foram todos em parceria com entidades, iniciativa privada, doação. A Coordenadoria não precisa ter 10 milhões, mas que ela precisa ao menos de destinação suficiente para fazer a articulação necessária com os grupos e movimentos de juventude e com as secretarias municipais que operam as políticas.
Ação Educativa: Quando você deixou o cargo, como estavam os processos de criação e implantação das estações de juventude?
Devanir Cavalcante: As estações de juventude, pela lei municipal, devem ser coordenadas pelas subprefeituras. Hoje a gente tem apenas uma, em Cidade Tiradentes, coordenada pela subprefeitura local. Eu mapeei diversos espaços para fazer estações. Em Itaquera, por exemplo, tem um local que poderia ser um Centro de Referência da Juventude e que estava sendo pleiteado por jovens da população local. Houve todo um trabalho deles para isso, mas a prefeitura não acolheu o projeto.
Ação Educativa: Pela lei do município, cada subprefeitura deveria ter também um auxiliar de juventude para articular grupos locais e Coordenadoria. Eles existem? Funcionam?
Devanir Cavalcante: Quando assumi, havia três ou quatro auxiliares de juventude que estavam fazendo algum trabalho com juventude. O restante acabava assumindo outros trabalhos dentro da subprefeitura, como motorista ou até servindo café. Muitas vezes isso acontecia, não porque eles não queriam fazer ou porque o chefe mandava, mas porque não tinham o que fazer, não havia coordenação.
Depois que assumi a Coordenadoria, chamei os auxiliares para conferências, para organizar eventos conosco e eles reagiram. Hoje pelo menos 19 deles já estão fazendo o seu devido trabalho, mas quase metade ainda não está.
Ação Educativa: A que atribui isso?
Devanir Cavalcante: Acho que os auxiliares tinham que ter mais autonomia e estar diretamente ligados à Coordenadoria e não às subprefeituras. Além disso, o processo deveria ser mais transparente. Os auxiliares precisam saber por quanto tempo ficam no cargo.
Ação Educativa: Na Segunda Conferência Municipal de Juventude, foi levantada como uma das prioridades para nortear as políticas da área a elaboração de um mapeamento da juventude paulistana. Como está este processo?
Devanir Cavalcante: Já demos o primeiro passo. Começamos um processo para ver como organizar a questão. É preciso saber exatamente o que se quer mapear, para depois fazer a licitação. Contratamos o Daniel Vaz para fazer o levantamento de tudo que se quer saber, onde se quer chegar. Íamos fazer um cruzamento com algumas informações da Secretaria, mas tivemos estes entraves políticos e também falta de verba. Sabia que não faríamos o mapeamento na minha gestão, mas queria deixar isso licitado ao menos.
Ação Educativa: como você vê as articulações de juventude na cidade de São Paulo? Você identifica demandas específicas da juventude local?
Devanir Cavalcante: As demandas são as mesmas para todos: a questão das políticas de segurança, liberdade, emprego, valorização do jovem, espaço para eventos e atividades culturais. Mas em São Paulo, especificamente, a questão da educação e do acesso a trabalho são muito fortes.
Ação Educativa: Quais são os desafios que você enxerga para o/a próximo/a coordenador/a?
Devanir Cavalcante: Neste quatro meses? Acho que neste período até o próximo mandato cabe explicar o que aconteceu e tentar dar continuidade ao que já vinha sendo foi feito pelos outros coordenadores. O desafio é tentar manter estes grupos que já estão muito fortes e que estão ligados aos processos, tentar potencializar a participação, ser parceiros deles. Mas não sei se isso agrada à Prefeitura.